Capítulo 15: Na Cafeteria com a Amiga
O convite da amiga ficou ecoando por dias. “Vamos sair um pouco, tomar um café aqui perto, você assim, do jeitinho que está.” A ideia parecia simples, mas para ela era um desafio imenso. Cada vez que se olhava no espelho da sala, com vestido e maquiagem, sentia o coração vibrar entre duas forças opostas: o medo de ser julgada e a vontade incontrolável de existir.
Naquela tarde de sábado, a amiga chegou em seu apartamento com seu sorriso leve e uma determinação escondida nos olhos.
— Hoje é o dia. Vamos? — disse, sem dar espaço para desculpas.
Ela respirou fundo, ajeitou a saia azul marinho que escolhera, conferiu a sandália de salto alto branca e passou o batom mais uma vez. As mãos tremiam.
— E se alguém olhar demais? E se rirem?
— E se ninguém fizer nada disso? — retrucou a amiga, pegando em sua mão. — Eu estarei do seu lado.
Saíram juntas. O corredor do prédio parecia mais longo que nunca, o elevador desceu em silêncio absoluto. Quando chegaram à rua, o vento bateu contra suas pernas, levantando suavemente a barra do vestido. Um arrepio percorreu-lhe o corpo: medo, sim, mas também a euforia de estar finalmente atravessando a fronteira.
A amiga caminhava tranquila, puxando a conversa como se fosse apenas mais um passeio. A naturalidade dela era um escudo. Aos poucos, ela começou a perceber que os olhares não eram tantos assim. As pessoas estavam ocupadas demais com seus próprios mundos.
No café da esquina, pediram dois cappuccinos e dividiram uma fatia de bolo de chocolate. O garçom as atendeu com educação, sem hesitação. O mundo não desabou. Nenhum riso, nenhum comentário atravessado. Apenas mais um atendimento comum.
Enquanto mexia a colher no cappuccino, ela percebeu: estava ali, sentada em público, montada, vivendo sua feminilidade sem disfarces. E não havia tragédia. Havia só a vida, fluindo normalmente.
A amiga sorriu, como quem entende o valor daquele instante.
— Viu só? O mundo não é tão assustador quanto parecia.
Ela engoliu o nó na garganta e sorriu de volta.
— É… acho que você tem razão.
Ao voltarem para seu apartamento, o coração dela ainda batia acelerado, mas agora não era de medo. Era de vitória.
E sabia que aquele pequeno café seria lembrado para sempre como o dia em que, pela primeira vez, ousou sentar-se diante do mundo e dizer, sem palavras, mas com presença: “Aqui estou eu.”
Continua... Aguarde o capítulo 16.
Confira:
Capítulo 1 - Crônica Crossdresser: O Segredo Sob a Roupa
Capítulo 2 - Crônica Crossdresser: O Segredo Sob a Roupa, o próximo passo
Capítulo 3 - Crônica Crossdresser: O Espelho da Loja
Capítulo 4 - Crônica Crossdresser: A Primeira Saída
Capítulo 5 - Crônica Crossdresser: Um Novo Passo para a Liberdade
Capítulo 6 - Crônica Crossdresser: A Estrada para o Mar
Capítulo 7 - Crônica Crossdresser: O Final de Semana Perfeito na Praia
Capítulo 8 - Crônica Crossdresser: De Olho no Futuro
Capítulo 9 - Crônica Crossdresser: A Chave da Liberdade
Capítulo 10 - Crônica Crossdresser: A Sala das Realizações
Capítulo 11 - Crônica Crossdresser: Moldando o Refúgio Feminino
Capítulo 12 - Crônica Crossdresser: Uma Visita Inesperada
Capítulo 13 - Crônica Crossdresser: O Começo de uma Amizade
Capítulo 14 - Crônica Crossdresser: A Confidente
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