Capítulo 13: O Começo de uma Amizade

Os dias passaram, mas a visita inesperada da colega de faculdade não saiu de sua mente. A lembrança do sorriso sincero e das palavras de aceitação ficava voltando como um eco suave. Pela primeira vez, alguém a tinha visto montada e não apenas aceitou, mas elogiou.

Crônica Crossdresser: O Começo de uma Amizade

Na semana seguinte, o telefone vibrou. Uma mensagem curta:
"Posso passar na sua sala para tomar um café?"

O coração disparou. Havia medo, sim, mas também uma curiosidade doce. Respondeu que sim, e passou o resto da manhã arrumando tudo. Vestiu uma saia preta, blusa clara e colar delicado — algo elegante, mas aconchegante.

Quando a colega chegou, trazia um bolo caseiro embrulhado em guardanapo de pano.
— Para combinar com o seu café. — disse, entrando com naturalidade.

Sentaram-se lado a lado, o aroma de café preenchendo o espaço. No começo, a conversa foi tímida, relembrando histórias da faculdade, professores rabugentos, festas mal planejadas. Aos poucos, a tensão se dissolveu.

— Sabe… — a colega disse, olhando para ela com sinceridade — eu nunca imaginei que você carregasse isso dentro de si. Mas vendo agora… parece tão certo. Você fica tão à vontade.

Ela sorriu, sentindo os olhos umedecerem.
— É a primeira vez que alguém me diz isso cara a cara. Sempre vivi com medo de ser descoberta.

— E agora? — perguntou a amiga, tocando de leve sua mão.

— Agora… acho que estou aprendendo que não preciso viver sozinha.

A partir dali, nasceu algo precioso. A colega começou a visitar a sala com frequência, trazendo livros, flores ou apenas disposição para conversar. Às vezes ficavam em silêncio, cada uma mergulhada nos próprios pensamentos, mas a presença já era um bálsamo. Outras vezes riam alto, como adolescentes, esquecendo que havia um mundo inteiro lá fora.

Ela finalmente descobriu o que era ter cumplicidade: alguém que não apenas conhecia seu segredo, mas que também partilhava da alegria de vê-la florescer.

Naquela sala de vidro, onde antes reinava apenas o reflexo solitário, agora havia duas xícaras de café, duas vozes, duas risadas.

E, mais do que nunca, havia esperança.