Capítulo 6: A Estrada para o Mar
Era sexta-feira à noite quando tomou a decisão: iria viajar para o litoral montada. Não seria apenas um passeio rápido, nem um shopping apressado. Seriam horas dentro de um ônibus, cercada de pessoas, até chegar ao destino onde passaria o fim de semana vivendo como queria — inteira, feminina, livre.
A preparação começou cedo. Escolheu um vestido leve, estampado, perfeito para o clima de praia. Um casaquinho fino para proteger do ar-condicionado do ônibus. Sandálias confortáveis e uma bolsa feminina com seus pertences. Na maquiagem, optou pelo equilíbrio: natural, mas suficiente para destacar seus traços. Olhou-se no espelho e, por um momento, esqueceu-se do medo. Estava linda.
Na rodoviária, o coração disparava. Cada passo ecoava com a certeza de que estava atravessando uma fronteira íntima. A fila para o embarque parecia interminável, mas ela manteve a postura: bolsa no ombro, olhar firme, como se fosse apenas mais uma mulher prestes a viajar.
Dentro do ônibus, sentou-se na janela. O banco ao lado foi ocupado por uma senhora simpática, que apenas sorriu e desejou boa viagem. Nenhum olhar atravessado, nenhum sinal de julgamento. Isso a fez relaxar. Aos poucos, a tensão foi dando espaço a uma emoção nova: a de pertencimento.
A estrada seguiu silenciosa, iluminada apenas pelos postes que passavam rápido pela janela. No reflexo do vidro, ela se observava. Via uma mulher viajando sozinha, sonhando com o mar que a esperava. Não uma fantasia, não um segredo — mas uma realidade concreta, conquistada com coragem.
Durante o trajeto, ouvia conversas baixas, risadas de jovens no fundo do ônibus, o cochicho de casais. E pensava: ninguém aqui sabe o quanto este momento significa para mim. Para eles, sou apenas mais uma passageira. Para mim, sou uma versão inteira que por tanto tempo precisei esconder.
Quando o ônibus se aproximou do litoral, o cheiro da maresia entrou pela janela entreaberta. O coração acelerou outra vez, mas agora de alegria. Estava prestes a viver um fim de semana não apenas de descanso, mas de afirmação.
Ao descer, sentiu o vento quente bater no rosto, brincar com a barra do vestido. Caminhou até a pousada com passos firmes. Sabia que o fim de semana seria cheio de descobertas, mas naquele instante já tinha conquistado o mais importante: a estrada até o mar tinha se tornado também a estrada até si mesma.
Continua... Aguarde o capítulo 7.
Confira:
Capítulo 1 - Crônica Crossdresser: O Segredo Sob a Roupa
Capítulo 2 - Crônica Crossdresser: O Segredo Sob a Roupa, o próximo passo
Capítulo 3 - Crônica Crossdresser: O Espelho da Loja
Capítulo 4 - Crônica Crossdresser: A Primeira Saída
Capítulo 5 - Crônica Crossdresser: Um Novo Passo para a Liberdade
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