Capítulo 8: De Olho no Futuro

O ônibus seguia pela estrada de volta à cidade, mas dentro dela algo já não era o mesmo. O final de semana no litoral tinha aberto uma porta que não podia mais ser fechada. Pela primeira vez, tinha vivido dias inteiros como mulher — não apenas instantes escondidos, não apenas pequenas ousadias secretas. Dias inteiros. E aquilo a transformara.

Ao chegar em casa, sentiu uma estranheza ao guardar os vestidos e sapatos na parte escondida do armário. Era como se aquelas peças não quisessem mais viver nas sombras. O cheiro do perfume usado na viagem ainda pairava no ar, e cada vez que abria a bolsa feminina, lembrava-se do som das ondas, do vento batendo na saia, do garçom servindo água de coco sem levantar sobrancelhas.

Na segunda-feira, a rotina masculina voltou. Camisa, calça social, sapato fechado. Mas algo estava errado. Por baixo, ela vestiu uma calcinha, como nos velhos tempos, mas já não era o suficiente. O corpo fazia o gesto automático, mas a mente gritava: “Eu já provei que posso ser mais do que isso.”

No trabalho, enquanto respondia e-mails, não conseguia parar de pensar. Imaginava ter um espaço só dela — como aquela sala comercial que tanto sonhava — onde pudesse trabalhar sempre montada. Pensava também em pequenas mudanças do dia a dia: quem sabe começar a sair de casa com roupas mais femininas em momentos simples, como ir à padaria ou ao mercado.

O medo ainda estava lá, claro. O receio de ser descoberta, de enfrentar olhares curiosos ou palavras atravessadas. Mas agora havia algo maior: a lembrança concreta de que era possível.

Naquela noite, abriu o caderno de anotações e escreveu:

Comprar mais roupas casuais femininas.
Procurar uma sala comercial para alugar.
Sair um dia de semana montada, em um lugar próximo.
Nunca mais deixar a coragem esfriar.

Fechou o caderno e sorriu. Porque a viagem ao litoral não tinha sido apenas uma fuga, mas um ensaio para a vida que estava por vir.

Sabia que ainda havia longos caminhos pela frente. Mas, de agora em diante, não viveria apenas de sonhos ou segredos. Tinha decidido: iria levar para a cidade a mesma liberdade que encontrou diante do mar.

Continua... Aguarde o capítulo 9.

Confira:

Capítulo 1 - Crônica Crossdresser: O Segredo Sob a Roupa

Capítulo 2 - Crônica Crossdresser: O Segredo Sob a Roupa, o próximo passo

Capítulo 3 - Crônica Crossdresser: O Espelho da Loja

Capítulo 4 - Crônica Crossdresser: A Primeira Saída

Capítulo 5 - Crônica Crossdresser: Um Novo Passo para a Liberdade

Capítulo 6 - Crônica Crossdresser: A Estrada para o Mar

Capítulo 7 - Crônica Crossdresser: O Final de Semana Perfeito na Praia