Capítulo 94: A Confraternização do Florescer

Capítulo 94: A Confraternização do Florescer

A sexta-feira, 19 de dezembro, chegou carregada de expectativa. Desde o início da manhã, o Studio Florescer Crossdresser estava em movimento constante: caixas sendo abertas, luzes testadas, mesas arrastadas para os cantos, decoração revisada e a playlist cuidadosamente montada por Anna e Roberta tocando ao fundo. A cafeteria, que normalmente já emanava acolhimento, naquela noite ganharia um brilho especial — a primeira confraternização oficial de fim de ano do Florescer

Capítulo 94: A Confraternização do Florescer
 

Era uma festa íntima, planejada apenas para convidados muito próximos: crossdressers que encontraram no Studio um porto seguro, mulheres trans que frequentavam o espaço desde o começo, homens e mulheres cis que apoiavam a comunidade e que se tornaram quase parte da família. Não haveria público, apenas pessoas que, de alguma forma, faziam parte da história do lugar.

Às sete da noite, com tudo pronto, as anfitriãs foram se arrumar no vestiário.
Anna apareceu com um vestido prata que marcava suas curvas e refletia as luzes como uma estrela viva. Roberta vestiu um longo preto com fenda, sensual e elegante, contrastando com seu batom vermelho intenso. Camila escolheu um vestido vinho curto, delicado e feminino, com caimento leve e sandálias de salto nude. Já Rafael, que ajudara com a montagem do som e das mesas, voltou minutos depois usando uma camisa social escura dobrada nos braços e uma calça ajustada — simples, bonito e confortável, do jeito que ele gostava.

— Estamos lindas demais — disse Anna, virando-se diante do espelho.
— A festa vai ser perfeita, completou Camila, ajeitando um brinco.

Quando o relógio marcou 20h, os primeiros convidados chegaram, ainda tímidos, mas sorrindo ao ver o ambiente transformado. Luzes quentes foram penduradas sobre o salão, a árvore decorada brilhava na lateral, e uma mesa enorme exibindo salgadinhos, docinhos, tábuas e drinks coloridos enfeitava o centro.

As conversas começaram baixas, mas logo a música tomou corpo, os risos se espalharam e o clima de liberdade se instalou. Era palpável: todos ali estavam soltos, leves, sem máscaras — apenas sendo quem eram.

Anna e Roberta, empolgadas, puxaram a primeira dança. As duas se aproximaram no meio do salão, rodando juntas ao som de uma música pop animada. As convidadas aplaudiram e logo formou-se um pequeno círculo ao redor delas. As duas se beijaram, sem hesitar, sem olhar ao redor para pedir permissão. Um beijo inteiro, luminoso, daquele tipo que nasce de orgulho e de amor.

— Agora sim a festa começou! — gritou Roberta, rindo e puxando Anna pela mão para dançar ainda mais.

Camila observava a cena com carinho quando sentiu um toque suave em sua cintura. Virou-se e encontrou Rafael sorrindo para ela.

— E nós? Vamos deixar só elas brilhando?

— Nunca — respondeu ela, rindo.

Os dois foram para a pista de dança improvisada. Rafael a segurou pela cintura com firmeza e gentileza ao mesmo tempo, e Camila passou os braços pelo pescoço dele. Dançaram juntos, bem próximos, como se nada mais existisse. Uma música lenta começou a tocar e, sem perceber, eles se beijaram. Um beijo doce, apaixonado, cheio de conexão — e ninguém ao redor julgava, ou virava o rosto. Naquele espaço, amor era só amor.

Conforme a noite avançava, todos se soltavam ainda mais. Pessoas que, no dia a dia, carregavam medo, receio ou peso no peito, naquela noite deixaram cair camadas. Crossdressers dançavam sem desconforto, mulheres trans riam alto sem se preocupar com olhares, casais cis misturados ao grupo celebravam juntos. Era uma mistura de felicidade e pertencimento rara, quase mágica.

Brincadeiras começaram:
Uma rodada de "adivinhe o personagem" com mímicas hilárias;
Roberta organizou uma competição de passarela – que virou caos divertido em segundos;
Anna fez todos dançar coreografias improvisadas;
Camila e Rafael distribuíam copos, ajeitavam a música e, vez ou outra, desapareciam para dançar juntos.

O Studio vibrava de vida, como se estivesse pulsando com cada gargalhada.

Perto da meia-noite, alguns já estavam sentados, conversando em pequenos grupos; outros ainda dançavam, e alguns simplesmente observavam o cenário com olhos marejados — porque era impossível não perceber que aquele espaço era muito mais que uma cafeteria. Era um lar.

Camila, ofegante da dança, viu Roberta e Anna abraçadas, rindo e trocando beijos sem se importar com nada. Viu Rafael olhando para ela com um brilho especial. Viu as convidadas ali, tão autênticas.

E sentiu, profundamente, que fazia parte de tudo isso.

Rafael se aproximou por trás, abraçando-a com carinho.
— Você criou um mundo aqui, Camila.
Ela sorriu. — Nós criamos. Todas nós.

E enquanto a música tocava, as luzes piscavam suavemente e o Studio Florescer celebrava sua primeira grande festa de fim de ano, Camila percebeu que, se existia um lugar onde ela podia florescer completamente, era exatamente ali — ao lado das pessoas que escolheu para chamar de família. 

Continua... Aguarde o capítulo 95. 

Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser

Capítulos novos todos os dias.

Comentários