Capítulo 93: Confraternizações e Confissões de Natal
A segunda-feira amanheceu vibrante no Studio Florescer Crossdresser. A cidade inteira parecia entrar no clima das festas de fim de ano, e a cafeteria estava especialmente movimentada desde cedo. Grupos de colegas de trabalho, amigas que não se viam há meses, casais animados com as confraternizações… todos passavam por lá, criando uma energia alegre, quente e quase caótica.
Camila chegou um pouco antes das outras, amarrou o rabo de cavalo de sempre e vestiu o avental decorado com pequenos flocos de neve que Roberta havia comprado. Quando Anna e Roberta chegaram, carregando caixas de enfeites natalinos, o espaço se encheu ainda mais de cor.
— Vamos deixar isso aqui com a cara do Natal — disse Anna, já abrindo uma caixa cheia de bolas vermelhas e douradas.
Roberta retirou uma guirlanda enorme e colocou na parede ao lado da vitrine de doces. — A gente merece um Natal bonito, né? Depois de tudo que passou este ano…
Camila sorriu, pegando um fio de luzes para enrolar na prateleira das plantas. — E os clientes também. O Studio está tão cheio esses dias…
— Fim de ano, né? — respondeu Anna. — O povo adora confraternizar com café caro e bolo bonito.
Elas riram juntas enquanto penduravam estrelas, laços e pequenas luzinhas por todo o salão. As conversas iam e vinham naturalmente, leves, até que Roberta comentou sobre seus próprios planos para o Natal.
— Vou passar com minha família. Todo ano a gente junta todo mundo. É bagunçado mas é gostoso.
Anna completou: — E eu vou pra casa da minha irmã, meus pais e meu outro irmão irão também. Ela já separou um quarto só pra eu me maquiar, acredita? — riu — Ela disse que quer que eu faça um “glam natalino” nela.
Camila ajeitou uma bola brilhante na árvore principal e ficou em silêncio por alguns segundos. O sorriso dela se manteve, mas havia uma hesitação no ar.
Anna percebeu primeiro. — O que foi, Cami? Tá com cara de quem tá pensando demais.
Camila respirou fundo, enrolando um fio de cabelo atrás da orelha. — É que… eu vou passar o Natal na casa dos meus pais.
— Ué, que bom! — disse Roberta, animada. — Já faz tempo que você não vai, né?
— É… — Camila abaixou o olhar. — Desde que me mudei, na verdade. Eles já sabem de tudo… já contei sobre minha transição. Mas nunca me viram assim.
Ela abriu os braços, mostrando o vestido, os acessórios, o jeito como se apresentava agora. — Nunca me viram como Camila. Só por telefone, mensagens… Eu tô com medo da reação deles.
Anna imediatamente se aproximou, tocando o ombro da amiga. — Cami… você não deve nada além da sua verdade. E você já compartilhou isso com eles. Agora é só o encontro.
Roberta completou com voz calma: — E outra. Eles são seus pais. Eles podem até estranhar no começo, é natural… é novidade. Mas você disse que eles te apoiaram quando conversaram, não disse?
— Sim… apoiaram. Só que ver pessoalmente é outra coisa. Tenho medo de decepcionar eles.
A voz de Camila saiu baixinha, como se confessasse algo guardado há muito tempo.
Anna fez sinal para que ela se sentasse ao lado delas no sofá da cafeteria — um daqueles momentos em que o trabalho pode esperar um minuto.
— Olha pra mim, Camila. — Anna segurou suas mãos. — Existem famílias que demoram. Outras que abraçam de imediato. Mas você já é essa mulher linda, inteira, forte. Eles vão ver isso. E mesmo se houver surpresa, mesmo se houver silêncio… não é rejeição. É adaptação.
Roberta acrescentou com doçura: — E se der medo, lembra que você não tá sozinha. Você tem a gente, tem o Rafael, tem sua história construída aqui. O que você viveu nesse ano já mostra que você consegue enfrentar qualquer coisa.
Camila sorriu, emocionada, respirando com mais calma. — Obrigada. De verdade. Vocês duas são… essenciais.
Anna brincou para aliviar o clima: — Claro que somos. A gente é praticamente o espírito natalino do Studio!
As três riram juntas, e o peso no peito de Camila ficou consideravelmente mais leve.
A manhã seguiu corrida: atendimentos, bolos que saíam do forno, cafés especiais sendo preparados, clientes comprando lembrancinhas de última hora. E entre um pedido e outro, os enfeites brilhavam, a árvore piscava e as três trabalhavam lado a lado, unidas não só pelo Studio, mas pela amizade construída com carinho — uma família escolhida.
E assim, na semana mais movimentada do ano, entre luzes, risadas e um certo frio na barriga, Camila começava a se preparar para aquilo que talvez fosse um dos momentos mais importantes de sua vida: o reencontro com seus pais — finalmente como ela mesma.
Continua... Aguarde o capítulo 94.
Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser
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