Capítulo 83: Medos e Expectativas de Camila

Capítulo 83: Medos e Expectativas de Camila

A segunda-feira começou quente, e o Studio Florescer Crossdresser estava cheio daquele aroma aconchegante de café recém-passado, misturado ao perfume leve das flores que Roberta sempre deixava em pequenos vasos sobre o balcão. Camila chegou mais cedo do que o normal — e isso já era motivo suficiente para Anna erguer uma sobrancelha curiosa assim que a viu entrar. 

Capítulo 83: Medos e Expectativas de Camila

— Você está com a cara mais suspeita do mundo, — Anna comentou, cruzando os braços e apoiando o quadril no balcão.

Camila tentou disfarçar, mas o sorriso denunciou tudo.

Roberta, que organizava alguns bolos na vitrine, virou-se com um sorriso dócil.

— Essa cara eu reconheço… — ela disse. — É a cara de quem teve um final de semana romântico.

Anna sorriu olhando para Camila.

— Me conta como foi o primeiro encontro como namorados oficiais?

Camila mordeu o lábio inferior e sorriu lentamente.

— Foi maravilhoso, fomos passear no parque.

Anna soltou um gritinho contido, quase infantil, e correu para puxar Camila pela mão.

— Você vai contar isso sentada, agora! Roberta, traz um café pra gente, que esse capítulo merece açúcar extra.

Roberta riu enquanto servia as xícaras fumegantes.

Camila sentou-se em uma das mesas do canto, as paredes enfeitadas com as fotos antigas de clientes e amigas da casa. Anna praticamente caiu na cadeira à frente dela, impaciente.

— Tá. Começa do início. Quero cada detalhe. 

— A gente passou o dia no parque… — Camila começou, sorrindo lembrando. — Foi tudo tão calmo, tão natural. Caminhamos, tomamos sorvete, ele me perguntava sobre tudo. Sobre minha vida, sobre o que eu gostava, sobre como eu me via… sobre crossdressing, transexualidade

Anna assentiu, orgulhosa.

— Ele sempre mostrou curiosidade genuína. Nada forçado.

— Exato — Camila respondeu. — Ele me ouvia com uma atenção… parecia que eu era a única pessoa no mundo naquele momento.

Roberta se aproximou, servindo o café e dizendo:

— Isso é raro, Camila. Muito raro. Por isso eu queria tanto que você reconhecesse quando um cara realmente valia a pena.

Camila sorriu com carinho.

— No final da tarde… ao me levar pra casa… ele segurou minha mão e disse que queria algo real, conhecer profundamente a minha essência, como eu me sinto, como me vejo. 

Anna levou as mãos ao rosto.

— Meu Deus, amiga. Então, você tá oficialmente namorando!

— Tô — ela disse baixinho, ainda surpresa consigo mesma. — E eu… tô feliz. De verdade. 

Anna percebeu o brilho emocionado nos olhos da amiga e segurou sua mão por cima da mesa.

— Ei… você merece essa felicidade. Não precisa ter medo.

— Mas eu tenho um pouco… — Camila confessou. — É tudo tão novo pra mim. Eu me sinto uma mulher completa quando estou com ele. Não é só o vestir, Anna. É… ser. Eu tô me descobrindo ao mesmo tempo em que tô me apaixonando.

Roberta apoiou a mão no ombro de Camila.

— Isso faz parte, meu amor. Você não precisa ter todas as respostas agora. Só precisa viver com verdade.

Camila respirou fundo, sentindo o acolhimento das duas.

— Eu só… não quero estragar nada. Ele é tão gentil, tão cuidadoso… e eu quero fazer isso dar certo.

— E vai dar — Anna disse com convicção. — Ele não te pediu em namoro por impulso. Ele te pediu porque viu você. A Camila inteira. E escolheu ficar.

Roberta se sentou ao lado delas, tirando uma luva de confeitaria.

— Quais são suas expectativas? — ela perguntou. — De verdade.

Camila pensou por alguns segundos antes de responder.

— Quero que seja leve. Quero que a gente continue conversando desse jeito. Quero ser eu mesma, sem medo. E quero… — ela sorriu, tímida — construir algo bonito. A gente tem uma conexão… eu sinto isso.

Anna assentiu.

— Camila… isso é exatamente o que um relacionamento saudável precisa. Não essa loucura que você já viveu antes. Agora é diferente. Agora é certo.

Roberta concordou.

— E você não está sozinha. Qualquer dúvida, qualquer coisa… você vem pra cá e conversa com a gente. Sempre.

Camila segurou a mão das duas, emocionada.

— Obrigada. Sério. Eu não estaria aqui se não fosse vocês.

Anna piscou com ternura.

— Ah, amiga… a gente viu você florescer. Agora só estamos vendo você amar.

Camila riu — leve, plena, tranquila como há muito tempo não se sentia.

E assim, entre o cheiro de café quente, o barulho da rua entrando pelas janelas e o carinho de duas amigas que eram praticamente família, Camila começou a viver o primeiro dia da sua nova vida — uma vida onde ela finalmente se sentia inteira.

Continua... Aguarde o capítulo 84. 

Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser

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