Capítulo 80: Um Pedido Especial

Capítulo 80: Um Pedido Especial

O domingo amanheceu com aquela calmaria que parece segurar o tempo pelas bordas, impedindo que ele corra. Camila acordou mais cedo do que planejava, com o coração batendo leve, mas cheio. Sentia algo dentro dela vibrando, como se estivesse prestes a acontecer algo que pudesse mudar o rumo do seu caminho — ou dar um nome novo ao que já estava crescendo.

Depois de um banho demorado, escolheu uma roupa com cuidado, mas sem exageros: queria se sentir ela mesma. Vestiu um shortinho branco curto, uma blusinha amarela e um tênis branco.  Passou uma maquiagem leve, se olhou no espelho e percebeu que havia algo diferente… não no reflexo, mas no olhar.
Ela estava tranquila.
Ela estava presente.
Ela estava viva.

Pouco antes das duas da tarde, Rafael enviou uma mensagem dizendo que já estava a caminho. O simples fato de vê-lo novamente fez o coração de Camila acelerar — não de ansiedade, mas de expectativa doce. Quando ele chegou, sorriu como quem reencontra o que não queria ter deixado ir embora.

Eles foram caminhar no mesmo parque onde tudo começou, mas dessa vez o sentimento parecia ter raízes mais profundas. O clima era leve, e o silêncio entre eles não pesava — ao contrário, fazia sentido. Caminharam lado a lado por longos minutos, até que Rafael sugeriu sentarem sob uma árvore onde a sombra dançava com o vento.

— Senti sua falta essa semana — ele disse, olhando para ela com sinceridade.
Camila respirou fundo, evitando baixar o rosto para não esconder a verdade.
— Eu também senti a sua — respondeu, sem medo, mas com o coração pulsando forte.

Durante a conversa, Rafael perguntou sobre sua semana, sobre como ela tinha se sentido, sobre suas reflexões — e Camila, pela primeira vez, não se encolheu diante do que estava descobrindo sobre si.

Ela contou que vinha refletindo sobre sua identidade, sobre sua essência, sobre o que estava sentindo e se reconhecendo. Ele ouviu cada palavra com atenção, sem pressa, sem interromper, com o tipo de respeito que não se aprende… apenas se tem.

— Você não precisa decidir nada agora — ele disse com suavidade. — Mas eu admiro a forma como você se conhece e se respeita. Isso é tão… lindo de ver.

Camila sorriu com uma gratidão que quase fez seus olhos brilharem.

Depois de longos minutos falando sobre sonhos, planos, inseguranças e possibilidades, levantaram e caminharam mais um pouco. Compraram um sorvete, riram de assuntos bobos, dividiram histórias antigas e descobriram semelhanças inesperadas.

Era como se tudo fluísse naturalmente — sem forçar, sem temer, sem descompassar.

Quando o sol começou a baixar, tingindo o céu de um laranja suave, Rafael pediu para que parassem um instante. Ele se virou de frente para Camila, respirou fundo e segurou suas mãos com carinho, como se segurasse algo precioso.

— Camila… — disse com calma, olhando-a nos olhos — eu não sei exatamente onde essa história vai nos levar, mas eu sei o que eu sinto quando estou com você… e o que eu sinto quando você não está. Eu gosto de você, não só pela sua beleza, nem pela sua coragem… mas porque você é alguém que me toca de um jeito diferente.

Ela sentiu o ar ficar mais leve… e mais sério.

— Eu quero caminhar com você do jeito certo — ele continuou. — Sem pressa, sem machucar, sem medo. Quero estar com você… de verdade.

Ele então passou o polegar por cima da mão dela, como quem dá segurança antes da pergunta mais sincera da vida.

— Camila… você quer namorar comigo?

O mundo pareceu parar, mas ela não.

Ela sorriu, sentindo o coração se encaixar no lugar exato onde sempre quis estar.

— Quero sim — respondeu, com a voz firme e doce, como quem finalmente reconhece o próprio destino.

E naquele instante, sem necessidade de mais palavras, eles se abraçaram — um abraço que não apertava o corpo, mas segurava a alma.

Ali, naquele fim de tarde, com o vento testemunhando, o amor começou de verdade.

Continua... Aguarde o capítulo 81. 

Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser

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