Capítulo 78: Um Domingo mais que Especial

Capítulo 78: Um Domingo mais que Especial

O domingo amanheceu com uma luz suave, daquelas que não invadem o quarto, mas tocam as paredes como um convite para começar o dia com calma.
Camila acordou devagar, com o coração já acelerado pelo simples pensamento de que veria Rafael de novo.

 

Capítulo 78: Um Domingo mais que Especial

Não era um encontro planejado com antecedência.
Era… um desejo silencioso dos dois.
E que, de alguma forma, havia se tornado inevitável.

Ela escolheu um vestido amarelo leve, que acompanhava seus movimentos com delicadeza, e prendeu o cabelo de um jeito simples, mas bonito. Passou uma maquiagem suave, quase imperceptível, e respirou fundo antes de sair. Sentia-se ansiosa, mas também estranhamente segura — como se aquele domingo prometesse algo importante.

Quando chegou ao parque da cidade, Rafael já estava lá.

Sentado no banco de sempre, esperando.
Quando a viu, sua expressão se iluminou com uma sinceridade que mexeu profundamente com Camila.

— Oi — disse ele, levantando-se.

— Oi… — ela respondeu, sentindo o rosto esquentar.

Começaram a caminhar pelo parque. O movimento era leve — algumas crianças brincando, casais espalhados pela grama, e o som distante das folhas balançando. Rafael caminhava ao lado dela sem pressa, as mãos quase tocando as dela, como se houvesse ali uma hesitação doce, cheia de cuidado.

— Passei a semana toda pensando em você — ele confessou de repente.

Camila parou por um instante, com o coração disparado.

— Em mim?

— Sim. — Ele sorriu. — Não consigo evitar.

Ela desviou o olhar, tentando se recompor.
Não estava acostumada com alguém falando assim para ela — com tanta naturalidade, com tanto carinho.

Sentaram em um banco sob uma árvore grande, onde a sombra criava um ambiente tranquilo, quase íntimo.

— Camila… posso te perguntar uma coisa? — Rafael disse, com a voz baixa.

— Pode…

— O que você espera do futuro? Da sua vida… de você mesma?

Ela demorou para responder.
Queria escolher as palavras com cuidado.

— Eu… quero viver como eu sou. — Ela disse enfim. — Quero ser feliz. Quero continuar descobrindo quem sou… e quero que as pessoas ao meu redor me enxerguem de verdade.

Rafael assentiu devagar, como se absorvesse cada frase.

— Eu te enxergo — disse ele. — Desde o primeiro dia.

Aquela confissão tocou algo profundo dentro dela.
Camila sentiu seus olhos marejarem, não de tristeza, mas de reconhecimento. De ser vista.

Rafael continuou:

— Eu ainda estou aprendendo muita coisa. Sobre o que é ser crossdresser, sobre identidade… tudo isso é novo pra mim. Mas eu quero aprender. Quero entender. Porque… — ele respirou fundo. — Porque eu estou me apaixonando por você.

Camila prendeu o ar.

Por um instante, o mundo pareceu ficar em silêncio.
Nenhum ruído do parque, nenhuma conversa distante.
Só aquela frase, ecoando, ocupando todo o espaço dentro dela.

— Rafael… — ela disse baixinho, sem saber como completar aquela frase tão grande dentro de si.

Ele aproximou a mão com cuidado, tocando a dela com leveza.

— Você não precisa responder nada — disse, com um sorriso tranquilo. — Não quero te pressionar. Só queria que você soubesse. O que eu sinto… é real.

Camila apertou a mão dele de volta, sentindo uma coragem quente crescer em seu peito.

— Eu também sinto algo por você — ela admitiu, quase em um sussurro. — Algo que está crescendo… e me assusta. Mas é bom.

Ele sorriu — não aquele sorriso rápido, mas um sorriso cheio de emoção, como se aquela frase tivesse acendido uma luz dentro dele.

A tarde passou lenta e bonita.
Eles caminharam pelas trilhas, dividiram um sorvete, conversaram sobre a vida, sobre filmes, músicas e sonhos. Não havia pressa. O tempo parecia se adaptar ao ritmo dos sentimentos dos dois.

Quando o sol começou a se pôr, Rafael a acompanhou até perto de casa.

— Obrigado por hoje — ele disse, a voz baixa, carregada de significado.

— Eu que agradeço — ela respondeu, sentindo o coração pulsar com força.

E ali, antes de se despedirem, ele se aproximou com calma, como quem espera permissão no olhar dela — e Camila fechou os olhos, deixando que aquele momento chegasse.

O beijo foi suave.
Calmo.
Carinhoso.
Como se fosse a confirmação silenciosa de tudo o que haviam dito sem palavras durante todo o dia.

— Boa noite, Camila — ele murmurou, tocando de leve o rosto dela antes de ir embora.

Ela ficou parada ali por alguns segundos, com o coração leve e quente, como se algo dentro dela tivesse finalmente encontrado seu lugar.

Quando entrou em sua kitnet e fechou a porta atrás de si, recostou-se nela e sorriu sozinha.

O afeto entre eles não era mais apenas um início.

Era algo que já estava florescendo.

E Camila sabia — aquele domingo seria lembrado para sempre.

Continua... Aguarde o capítulo 79. 

Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser

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