Capítulo 102: O Último Florescer do Ano

Capítulo 102: O Último Florescer do Ano

Era dia 27 de dezembro, e o Studio Florescer Crossdresser respirava um clima diferente. Não era tristeza, nem exatamente cansaço — era aquela sensação suave de fechamento de ciclo, quando tudo o que foi vivido passa pela memória com carinho.

Capítulo 102: O Último Florescer do Ano

Quando Camila chegou, Anna estava do lado de fora, ajustando cuidadosamente uma plaquinha de aviso na porta de vidro da cafeteria. Roberta, lá dentro, organizava o balcão com calma, alinhando xícaras e conferindo os últimos detalhes.

Camila se aproximou e leu o aviso ainda antes de entrar:

“Estaremos em recesso de final de ano a partir de 28/12.
Retornamos no dia 04/01 (segunda-feira).
Agradecemos por um ano maravilhoso.
Que o próximo seja ainda mais cheio de flores.”


Ela sorriu, sentindo um aperto bom no peito.
— Parece até que foi ontem que tudo começou — comentou, entrando.

Anna assentiu, dando um passo para dentro.
— E olha quanta coisa aconteceu nesse ‘ontem’.

O dia seguiu exatamente como o clima prometia: tranquilo, leve, com poucos clientes. Algumas pessoas entraram para um café rápido, outras apenas para desejar boas festas. O Studio parecia saber que também precisava descansar.

Entre um atendimento e outro, as três se permitiram conversar mais do que trabalhar. Anna e Roberta relembraram quando surgiu a ideia até a inauguração do Studio Florescer Crossdresser, o frio na barriga do primeiro dia, as histórias que ouviram, os sorrisos tímidos de quem entrava pela primeira vez com medo — e saía um pouco mais confiante.

— Teve gente que chegou aqui sem saber quem era — disse Roberta, pensativa. — E saiu sabendo que podia ser quem quisesse.

Relembraram também a primeira vez que Camila chegou no Studio, uma crossdresser tímida do interior, ainda vestindo suas roupas masculinas, trazendo o anseio de colocar para fora a mulher que sempre foi. Do dia em que pediu uma oportunidade de emprego na cafeteria como solução para poder morar perto do Studio e se transformar em uma mulher verdadeira. 

Camila ouviu em silêncio por alguns segundos, com lágrimas em seu olhos, pensando o quanto foi difícil mas conseguiu seu objetivo.

No meio da tarde, a porta se abriu novamente. Camila ergueu os olhos e, ao reconhecer Rafael, seu rosto se iluminou de imediato. Ele já estava de recesso do trabalho.

— Vim ver vocês antes do fechamento oficial do ano — disse, sorrindo.

Ele se juntou às três, puxando uma cadeira, e logo estava envolvido nas histórias, rindo, ouvindo, fazendo perguntas. Rafael parecia cada vez mais parte daquele universo — não apenas como namorado de Camila, mas como alguém que realmente entendia o significado daquele espaço.

Quando o sol começou a baixar, Anna fechou o caixa pela última vez no ano. Roberta apagou algumas luzes, e Camila ficou alguns segundos parada no meio do Studio, observando tudo em silêncio.

Então, juntas, fecharam a porta.

Não houve pressa. Houve abraços demorados, promessas de um próximo ano ainda mais bonito, olhares carregados de gratidão.

— A gente se vê no ano que vem — disse Anna, emocionada.
— Com ainda mais histórias pra contar — completou Roberta.

Anna e Roberta seguiram juntas para casa. Rafael, como já era natural, levou Camila até sua kitnet. No caminho, conversaram sobre o ano que estava terminando, sobre tudo o que viveram em tão pouco tempo.

Há alguns dias, Camila e Rafael haviam conversado sobre passar o Ano Novo só eles, juntos, livres em uma pequena cidade turística do interior. 

Antes de se despedirem confirmaram a viagem:
— Amanhã é o dia da nossa viagem — disse Rafael.
Camila sorriu, sentindo-se segura.
— Sim, nossa viagem.

Ao entrar em casa, Camila teve a certeza de que aquele não era apenas o encerramento de um ano. Era o fechamento de uma fase — e o início de outra, ainda mais verdadeira, que já começava a florescer. 

Continua... Aguarde o capítulo 103. 

Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser

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