Capítulo 100: Almoço de Natal em Família
O dia 25 de dezembro amanheceu sereno. A casa dos pais de Camila parecia respirar um silêncio diferente — não o silêncio tenso do dia anterior, mas um silêncio confortável, de quem dormiu em paz. Camila acordou devagar, sentindo o corpo descansado e o coração aquecido. Por alguns segundos, ficou deitada, lembrando do abraço do pai, do sorriso orgulhoso da mãe, das palavras que ainda ecoavam dentro dela.
Desceu as escadas usando uma roupa simples e confortável, o cabelo preso como sempre. Na cozinha, encontrou a mãe preparando o almoço, cantarolando baixinho.
— Dormiu bem, minha filha? — perguntou, com um sorriso tranquilo.
— Dormi… muito bem — respondeu Camila, sincera.
O pai apareceu logo depois, com o jornal na mão e um olhar mais leve do que no dia anterior.
— Bom dia — disse, aproximando-se para dar um beijo no rosto dela. Um gesto simples, mas que significava tanto.
O almoço de Natal foi preparado sem pressa. Camila ajudou em tudo: picou temperos, arrumou a mesa, escolheu a trilha sonora baixa que preenchia a sala com música antiga. Cada pequeno gesto parecia natural, como se aquele lugar sempre tivesse sido também o espaço da mulher que ela era agora.
À mesa, conversaram sobre a viagem, sobre o Studio Florescer Crossdresser, sobre o trabalho, sobre Rafael. A mãe ouvia tudo com curiosidade e orgulho. O pai fazia perguntas, interessado de verdade, querendo entender cada detalhe.
— E você está feliz lá, Camila? — perguntou ele em certo momento.
Ela respirou fundo, sorriu com os olhos.
— Estou. Feliz como nunca estive.
O pai assentiu, satisfeito, como se aquela resposta fosse tudo o que precisava ouvir.
Depois do almoço, ficaram na sala conversando, relembrando histórias antigas, rindo de episódios da infância. Camila percebeu, com emoção silenciosa, que já não havia estranhamento nos olhares. Havia apenas reconhecimento.
No meio da tarde, ela começou a arrumar suas coisas para voltar. O vestido rosa que ganhara do pai ficou dobrado com cuidado na mala, como um símbolo silencioso daquele novo capítulo.
Na despedida, a mãe a abraçou forte.
— Volta sempre, minha filha. A casa é sua.
O pai a envolveu em um abraço firme e demorado.
— Vai com Deus. E… — ele sorriu, meio tímido — avisa quando chegar. Quero saber se chegou bem.
Camila segurou as lágrimas e assentiu.
A viagem de volta foi leve. Pela janela do ônibus, ela observava a paisagem mudar enquanto pensava em tudo o que havia vivido nos últimos dias. O medo deu lugar à aceitação. A insegurança foi substituída por orgulho. E, acima de tudo, havia gratidão.
Quando chegou à cidade, o céu já começava a escurecer. Camila entrou na kitnet, deixou a mala no canto e se jogou no sofá por alguns minutos, respirando fundo. Mandou uma mensagem para Rafael avisando que havia chegado bem. Logo depois, escreveu para Anna e Roberta dizendo que estava de volta e pronta para retomar a rotina.
Levantou-se, tomou um banho demorado e vestiu apenas uma calcinha. Antes de dormir, passou os olhos pela agenda: no dia seguinte, o Studio reabria após o recesso. Haveria café, conversas, histórias, risos — e ela estaria lá, inteira, renovada.
Deitou-se com um sorriso tranquilo no rosto.
Camila sabia: voltava diferente. Mais forte. Mais segura. Mais mulher.
E, ao fechar os olhos, teve a certeza de que aquele Natal não havia sido apenas uma data no calendário — havia sido um marco. Um recomeço silencioso, bonito e definitivo.
Continua... Aguarde o capítulo 101.
Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser
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