Capítulo 70: A Esperança do Reencontro
O domingo amanheceu com o céu limpo e o canto das aves atravessando as janelas do pequeno apartamento de Camila.
Ela acordou cedo, antes mesmo do despertador tocar.
O coração batia um pouco mais rápido — como se soubesse que aquele dia poderia guardar algo especial.
Passou alguns minutos deitada, olhando o teto, tentando disfarçar a ansiedade.
Mas não havia como negar: ela queria voltar ao parque.
Não por rotina, mas por esperança.
Tomou banho, escolheu um vestido leve em tons suaves de verde claro, calçou seu tênis branco e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo solto.
Passou uma maquiagem discreta, olhou-se no espelho e sorriu de leve, com um misto de nervosismo e expectativa.
Pegou sua bolsa, colocou seu óculos de sol, pegou a garrafa de água e saiu.
O ar da manhã estava fresco e doce, e o caminho até o parque parecia mais curto do que de costume.
A cada passo, o pensamento era o mesmo:
“Será que ele vai estar lá?”
Chegando ao parque, o sol já filtrava entre as árvores, pintando o chão com pequenos desenhos de luz.
Crianças brincavam, pessoas caminhavam, e os corredores de corrida já estavam cheios de gente.
Camila respirou fundo e se dirigiu ao mesmo banco onde havia sentado na semana anterior.
Ficou ali, observando o movimento, fingindo distração.
Mas o olhar, de tempos em tempos, buscava entre os corredores conhecidos aquele rosto que ela não conseguia esquecer.
Minutos se passaram.
E quando já pensava que talvez ele não viesse, o destino lhe respondeu em silêncio: lá estava ele, vindo na mesma direção, correndo com ritmo firme, fones nos ouvidos e expressão concentrada.
O coração de Camila disparou.
Por um instante, pensou em se levantar e ir embora — o medo e o encanto se misturando como sempre.
Mas ficou.
Quando ele passou por ela pela primeira vez, desviou o olhar rapidamente, como se não quisesse criar expectativas.
Na segunda volta, ele a viu.
E sorriu.
Camila sentiu o tempo desacelerar.
O sorriso dele era o mesmo — simples, sincero, acolhedor.
Na terceira volta, ele parou.
— Eu sabia que te encontraria aqui — disse, ainda ofegante.
Camila sorriu, surpresa e tímida.
— Eu também… esperava te ver.
Ele sentou-se ao lado dela, respirando fundo por alguns segundos.
Camila, sem saber o que dizer, ofereceu novamente sua garrafa de água.
— Parece que isso já virou tradição — brincou ela.
Ele riu, pegando a garrafa.
— Pois é… acho que sim.
Ficaram alguns instantes em silêncio, observando o movimento do parque.
A brisa balançava as folhas, e o som dos pássaros completava o momento com uma tranquilidade natural.
— Sabe… — disse ele, olhando o chão — fiquei pensando muito em você essa semana.
Camila desviou o olhar, o rosto corando de leve.
— Eu também pensei em você — respondeu, quase num sussurro.
Ele virou-se para ela, com um olhar gentil.
— Posso te confessar uma coisa? — perguntou.
Camila assentiu.
— Eu achei incrível a sua coragem. Você foi tão sincera comigo. Isso é raro hoje em dia.
Camila sorriu, emocionada.
— Eu achei que você nunca mais fosse querer me ver depois que eu disse… que sou trans, na verdade, uma crossdresser.
— E por que não? — ele respondeu de imediato. — Você continua sendo a mesma pessoa que eu vi naquele banco. A mesma que me fez parar a corrida sem nem perceber.
O coração de Camila se apertou, e um silêncio doce se instalou entre os dois.
Por alguns minutos, só o som do vento e das folhas preenchia o espaço.
— Posso te acompanhar um pouco? — ele perguntou, quebrando o silêncio.
Camila sorriu.
— Pode sim.
E assim fizeram.
Caminharam juntos pelo parque, lado a lado, conversando sobre coisas simples: música, viagens, sonhos, o dia a dia.
A cada palavra trocada, o medo que Camila carregava parecia se dissolver um pouco mais.
Quando chegou a hora de se despedirem, ele disse:
— Espero te ver de novo… aqui, no próximo domingo.
Camila respondeu com um sorriso leve:
— Eu também espero.
Ele deu um beijo no rosto de Camila, um beijo suave na bochecha tão perto da boca que foi quase como um selinho.
Ele acenou e foi embora, e ela ficou ali, observando-o se afastar até sumir entre as árvores.
O coração batia calmo, mas cheio — como quem acabara de viver algo bonito, delicado e novo.
Antes mesmo de iniciar o caminho de volta para casa veio um pensamento repentino: "Droga, não perguntei o nome dele e nem o número do celular dele.". — Estava tão vislumbrada com o momento que havia se esquecido completamente do mais óbvio.
Ao voltar para casa, o sorriso não saiu do rosto.
Ela sabia que ainda havia dúvidas, inseguranças e receios, mas naquele momento tudo o que sentia era esperança.
Porque, talvez, o amor — ou o começo dele — fosse exatamente isso:
um reencontro inesperado que faz o mundo parecer mais leve. 🌷
Continua... Aguarde o capítulo 71.
Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser
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