Capítulo 67: Um Domingo no Parque

Capítulo 67: Um Domingo no Parque

O domingo amanheceu com o céu limpo e o ar fresco, perfumado pelo cheiro de flores silvestres.
Camila despertou cedo, sentindo uma vontade tranquila de aproveitar o dia fora de casa.

Capítulo 67: Um Domingo no Parque

Abriu as janelas da kitnet e deixou a brisa da manhã entrar.
O sol ainda suave iluminava o pequeno espaço com uma luz dourada.
Com calma, escolheu um vestido florido de tecido leve, delicado e feminino.
Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo solto, calçou um tênis branco e completou o visual com óculos de sol, brincos discretos e uma maquiagem leve — o suficiente para realçar a doçura de seu rosto.

Antes de sair, olhou-se no espelho por um instante.
Viu uma mulher serena, confiante, e por dentro sorriu — aquele reflexo era o retrato da paz que tanto buscara.

O parque ficava a poucas quadras dali.
Era amplo, arborizado, com caminhos sinuosos de terra batida e bancos de madeira espalhados entre árvores frondosas.
Crianças brincavam, casais caminhavam de mãos dadas e pássaros cruzavam o ar em voos alegres.

Camila escolheu um banco à sombra de uma figueira.
Ali, abriu sua garrafinha de água, observou o movimento e se deixou levar por aquele sossego raro.
O som das folhas dançando com o vento parecia embalá-la.

De repente, algo chamou sua atenção.
Um garoto da sua idade corria pelo caminho, o rosto suado e o olhar concentrado.
Na primeira vez que passou, ele olhou brevemente para ela.
Na segunda, o olhar durou um pouco mais — o suficiente para Camila sentir o rosto esquentar.

“Será que ele percebeu…?” — pensou, ajeitando o vestido no colo.
Sentia o coração acelerar, sem saber se por vergonha ou curiosidade.

Na terceira volta, o garoto diminuiu o ritmo.
Parou bem em frente ao banco onde ela estava e, respirando com dificuldade, fixou o olhar nela.
Camila ficou sem saber o que fazer.
Em um impulso tímido, estendeu a garrafa e disse baixinho:
— Quer um pouco de água?

Ele sorriu, surpreso, e aceitou.
— Obrigado… eu realmente precisava.

Enquanto ele bebia, Camila o observava discretamente.
O cabelo castanho estava úmido de suor, os olhos eram claros e gentis.
Ela pensou em como parecia natural e bonito aquele momento — dois desconhecidos dividindo um gole d’água num domingo qualquer.

Depois de recuperar o fôlego, o garoto devolveu a garrafa e sorriu de novo.
— Sabe… não pude deixar de te observar. Você é muito bonita.

Camila sentiu o rosto corar.
Baixou os olhos e respondeu com a voz suave:
— Obrigada…

Mas, por dentro, o coração se enchia de perguntas.
“Será que ele sabe? Será que percebeu?”
O medo e o encantamento se misturavam, num turbilhão silencioso.

O garoto então se sentou ao lado dela, ainda respirando fundo.
Conversaram por alguns minutos — sobre o parque, o clima, pequenas trivialidades que pareciam bastar.
A cada frase, Camila relaxava um pouco mais.

Até que ele, com o olhar sincero e curioso, perguntou:
— Posso te fazer uma pergunta?
— Claro — respondeu, mesmo sentindo o estômago apertar.
— Você é trans, né?

Camila ficou vermelha, o olhar vacilante.
Engoliu em seco antes de responder:
— Sou sim… mas, na verdade, sou uma crossdresser.

Por um instante, temeu o silêncio que se seguiu.
Mas ele sorriu, sereno, e disse com simplicidade:
— Isso te torna ainda mais especial… além de linda.

As palavras dele pareceram ecoar dentro dela, leves e sinceras.
Camila ficou sem resposta, apenas sorriu, tentando esconder a emoção.

O garoto então se levantou, ajeitou os fones de ouvido e disse:
— Foi um prazer te conhecer. Espero te ver por aqui de novo.

Ela apenas acenou, ainda meio sem acreditar no que acabara de acontecer.
Observou-o se afastar, voltando à corrida, até desaparecer entre as árvores.

Por alguns minutos, Camila ficou parada, com um sorriso tímido no rosto e o coração batendo apressado.
Era uma sensação nova — doce, confusa, mas boa.

Passeou mais um pouco pelo parque, almoçou em um quiosque e passou o início da tarde caminhando devagar entre as flores.
Quando o sol começou a baixar, voltou para seu apartamento.

Ao se deitar para descansar, ainda sentia o eco da voz dele.
“Linda… e especial.”

Fechou os olhos e sorriu.
Pela primeira vez, não se perguntou se alguém a veria como mulher —
porque, naquele dia, ela havia se sentido verdadeiramente vista. 🌸

Continua... Aguarde o capítulo 68. 

Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser

Capítulos novos todos os dias.

Comentários