Capítulo 62: A Nova Rotina de Camila
Os dias seguintes passaram com uma doçura tranquila.
A rotina de Camila no Studio Florescer Crossdresser logo encontrou um ritmo próprio — entre o som suave das xícaras, o perfume do café recém-passado e as risadas que ecoavam pelas manhãs.
Chegava sempre cedo, antes mesmo do movimento começar.
Ajudava a abrir as janelas, varrer o chão, colocar flores frescas nos vasos e acender as luzes do letreiro, que agora parecia saudá-la com brilho especial a cada novo dia.
Em pouco tempo, já se movia com naturalidade, como se sempre tivesse feito parte daquele lugar.
Anna observava com carinho.
Via em Camila uma energia que lembrava os primeiros tempos do Studio: entusiasmo, delicadeza e uma vontade sincera de fazer tudo com amor.
A amiga, sempre atenta aos detalhes, dizia rindo:
— Essa menina tem um dom. Até o café dela parece sair mais leve.
Camila corava, sorrindo envergonhada.
— Acho que é porque eu gosto de ver as pessoas felizes — respondia.
E era verdade.
Os clientes começaram a reparar na nova integrante da equipe.
Alguns comentavam discretamente com Anna:
— Aquela moça é tão gentil… dá gosto vir aqui.
Camila cumprimentava cada pessoa com um sorriso genuíno.
Aprendeu a reconhecer os frequentadores mais assíduos: o senhor que sempre lia jornal no canto, as amigas que vinham trocar confidências nas tardes de sábado, as meninas que usavam o vestiário dos fundos para se arrumar antes de um passeio.
De vez em quando, alguma visitante nova chegava tímida, olhando ao redor com insegurança.
Camila era a primeira a se aproximar, oferecendo um café e um sorriso acolhedor — do mesmo jeito que Anna havia feito com ela na primeira vez.
E, pouco a pouco, aquela timidez se desfazia.
— Você tem um jeito que acalma as pessoas — disse Anna certa manhã, enquanto organizavam os bolos na vitrine.
— Acho que é porque eu sei como é ter medo de ser vista — respondeu Camila, com um olhar sereno. — E sei também o quanto é bom quando alguém nos olha com bondade.
Anna ficou em silêncio por um instante, tocada pela sinceridade da resposta.
A amiga, que escutava de longe, comentou sorrindo:
— O Florescer está realmente florescendo mais com você aqui, Camila.
As tardes eram suas preferidas.
O movimento diminuía e o Studio ficava tomado por uma luz dourada.
Camila adorava arrumar as mesas e ouvir as conversas das clientes — trocas de histórias, risadas, palavras de incentivo.
Às vezes, sentava-se um pouco para descansar e pensava em como sua vida havia mudado em tão pouco tempo.
No sábado, ao final do expediente, Anna reuniu as duas no balcão.
— Tenho uma ideia — disse, animada. — Que tal criarmos uma tarde chamada “Histórias do Florescer”? Cada uma de nós poderia contar sua trajetória, pra inspirar as novas visitantes.
A amiga adorou a proposta.
Camila, por sua vez, ficou pensativa.
— Eu… posso participar também?
Anna sorriu.
— Claro que sim. Sua história já é parte da nossa.
Camila baixou os olhos, emocionada.
— Nunca pensei que alguém fosse dizer algo assim pra mim.
— Pois acredite — respondeu Anna com ternura. — Você faz parte dessa família agora.
Naquela noite, ao fechar o Studio, Camila ajudou a apagar as luzes e ajeitar as cadeiras.
Antes de sair, olhou para o letreiro aceso do lado de fora e sorriu.
O reflexo da palavra Florescer iluminava seu rosto com delicadeza.
Caminhou de volta para casa a passos leves, o vento da noite tocando seu cabelo solto.
Pela primeira vez em muito tempo, ela não tinha pressa.
A vida havia finalmente encontrado um ritmo tranquilo — o ritmo de quem está, aos poucos, aprendendo a florescer em paz.
🌸 Camila já não era apenas uma visitante do Studio. Agora, ela fazia parte dele — como uma flor nova que o jardim acolheu com amor. 🌸
Continua... Aguarde o capítulo 63.
Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser
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