Capítulo 56: A Primeira Vez no Florescer

Capítulo 56: A Primeira Vez no Florescer

A tarde caía preguiçosa sobre a cidade quando uma figura hesitante parou diante da vitrine do Studio Florescer Crossdresser.
Do lado de fora, a jovem observava o letreiro iluminado, o movimento suave dentro da cafeteria, as risadas discretas, o som de xícaras se tocando.
O coração dela batia acelerado — entre o medo e a vontade. 

Capítulo 56: A Primeira Vez no Florescer

Seu nome social era Camila.
Tinha vinte e dois anos e viera de uma cidade pequena do interior.
Nas redes sociais, havia lido sobre o Florescer — o espaço que tantas pessoas descreviam como “um refúgio”, “um lar”, “um lugar onde ser é seguro”.
Foram semanas até tomar coragem de comprar a passagem e vir.

Agora estava ali, com as mãos suadas e um pequeno batom escondido na bolsa.
Usava calça jeans e uma blusa larga, roupas masculinas escolhidas para “não chamar atenção”. Mas por baixo daquela roupa masculina escondia uma linda calcinha preta escolhida com carinho para a viagem até o Studio.
Mas no fundo, ela sabia que não tinha vindo até ali para se esconder.

Com um suspiro fundo, abriu a porta.
O som do sininho a fez estremecer levemente.
O ambiente era acolhedor, perfumado com café e flores secas.
Algumas pessoas conversavam animadas; outras, mais reservadas, sorriam entre goles de cappuccino.

Anna estava atrás do balcão, conferindo um pedido, quando percebeu a presença da nova visitante.
Sorriu com aquele jeito doce e tranquilo que parecia abraçar sem tocar.
— Boa tarde! Seja bem-vinda ao Florescer.

Camila hesitou por um instante antes de responder:
— Oi… é… obrigada.
Sua voz saiu quase num sussurro.
Anna percebeu o nervosismo nos olhos dela e convidou com um gesto delicado:
— Pode sentar, fique à vontade. Quer um café?

Camila assentiu, sentando-se numa mesa próxima à janela.
As mãos tremiam levemente enquanto ela observava o espaço, tentando acreditar que estava mesmo ali.

Poucos minutos depois, Anna se aproximou com uma xícara fumegante e um sorriso sereno.
— Aqui está. Cappuccino com canela… é o preferido da casa.

Camila agradeceu, ainda tímida.
— Eu… vi o lugar pela internet. Achei bonito.
Anna sorriu.
— Que bom. Fico feliz que tenha vindo conhecer. — E depois de uma pequena pausa, perguntou com suavidade: — Veio de longe?

A pergunta, simples, pareceu abrir uma comporta.
Camila respirou fundo, tentando segurar as lágrimas.
— De uma cidade pequena. Lá ninguém entende muito bem… isso. — Fez um gesto vago, como se não soubesse como explicar. — Eu sempre quis me vestir como eu gosto, mas… nunca tive coragem.

Anna se sentou à frente dela, em silêncio respeitoso.
— Sabe, Camila, todas nós já estivemos nesse lugar.
A jovem levantou o olhar, surpresa.
Anna continuou:
— O medo é o primeiro visitante de quem decide ser quem é. Ele chega antes da coragem, mas vai embora quando a gente encontra apoio.

A amiga, que observava de longe, se aproximou com outro café e sentou-se também.
— A Anna fala isso porque viveu o mesmo. — Sorriu. — E o Florescer nasceu justamente pra isso: pra que ninguém precise viver esse medo sozinha.

As palavras tocaram Camila profundamente.
Por um instante, ficou em silêncio, observando as duas mulheres diante dela — tão diferentes, e ao mesmo tempo tão serenas.
Havia um tipo de força suave na forma como se olhavam, como se compreendiam sem precisar explicar nada.

Anna então perguntou:
— Você quer conhecer o vestiário? Lá é um espaço tranquilo… dá pra conversar melhor.

Camila assentiu, meio envergonhada.
As três caminharam até os fundos da cafeteria.
O pequeno vestiário estava iluminado por luzes amareladas e decorado com flores e frases nas paredes: “Ser é um ato de coragem.”
Em cima da penteadeira, alguns batons e escovas ficavam à disposição.

Anna se aproximou do espelho e olhou para Camila.
— Quer tentar passar um batom? — perguntou com ternura.

Camila sorriu, trêmula.
Tirou da bolsa o pequeno batom rosa que trouxera escondido e o mostrou como quem revela um segredo antigo.
— Eu trouxe o meu… mas nunca usei de verdade.

— Então hoje é o dia — disse a amiga, sorrindo.

Com mãos hesitantes, Camila passou o batom, olhando para o espelho.
Por um segundo, pareceu não se reconhecer.
Mas depois, um pequeno sorriso começou a surgir — tímido, sincero, bonito.

Anna colocou a mão sobre o ombro dela e sussurrou:
— É assim que começa. Um passo de cada vez.

Camila respirou fundo, com os olhos marejados.
— Eu achei que nunca teria coragem de fazer isso.
— A coragem sempre existe — respondeu Anna, — ela só precisa de um lugar pra florescer.

Naquela tarde, Camila ficou mais tempo no Florescer do que havia planejado.
Saiu de lá com o rosto leve, o coração cheio e um novo sentimento: o de pertencimento.

Quando foi embora, Anna e a amiga ficaram observando pela janela.
Camila atravessou a rua devagar, olhando para o reflexo no vidro das lojas — o mesmo reflexo que, pela primeira vez, não lhe causava medo, mas orgulho.

A amiga suspirou.
— Acho que o Florescer acabou de mudar mais uma vida.
Anna sorriu, emocionada.
— E talvez tenha feito a gente florescer um pouco mais também.

Do lado de fora, o sol se punha devagar.
O letreiro da cafeteria se acendia, iluminando o começo de uma nova história.

🌸 Studio Florescer Crossdresser – Um lugar onde cada passo é um florescer. 🌸

Continua... Aguarde o capítulo 57. 

Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser

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