Capítulo 53: Quando o Florescer Ganha Voz
Os dias começaram a passar num ritmo novo.
O Studio Florescer Crossdresser, agora aberto durante toda a semana, transbordava movimento, risadas, e o aroma doce de café recém-passado.
As mesas estavam sempre ocupadas — por rostos curiosos, olhares acolhedores e histórias que pareciam se entrelaçar no ar.
Anna, atrás do balcão, observava tudo com um sentimento de realização difícil de descrever.
Era como se cada cliente que entrava carregasse uma pequena parte da jornada dela.
Algumas pessoas vinham por curiosidade, outras por identificação.
E havia aquelas que, em silêncio, se sentavam num canto, observavam, respiravam fundo… e, finalmente, se sentiam livres.
Certa tarde, enquanto organizavam as flores das mesas, a amiga comentou:
— Você percebe como o espaço está mudando?
Anna olhou ao redor e assentiu.
— Sim. Está virando algo maior do que uma cafeteria.
Havia algo diferente no ar.
De tempos em tempos, algumas clientes pediam para conversar com Anna.
Falavam sobre dúvidas, inseguranças, sobre a vontade de se vestir de forma diferente, de se expressar, mas também sobre o medo — o mesmo medo que um dia morou dentro dela.
E foi numa dessas conversas, durante uma noite de sexta-feira chuvosa, que a ideia nasceu.
Uma jovem crossdresser, tímida, segurava a xícara de café com as mãos trêmulas.
— Eu nunca falei sobre isso com ninguém — disse ela. — Só aqui me sinto… normal.
A frase ficou ecoando na mente de Anna por dias.
Na manhã seguinte, enquanto escrevia o cardápio do dia no quadro negro, ela comentou com a amiga:
— E se o Florescer fosse mais do que uma cafeteria?
— Mais como o quê? — perguntou a amiga, curiosa.
Anna sorriu, o olhar cheio de brilho.
— Como um centro de apoio. Um espaço onde a gente possa conversar, orientar, ouvir… onde cada pessoa possa contar sua história e perceber que não está sozinha.
A ideia tomou corpo rapidamente.
Nos fins de tarde, quando o movimento diminuía, elas começaram a organizar encontros pequenos, informais, que logo ganharam o nome carinhoso de “Rodas do Florescer”.
O primeiro encontro aconteceu em um sábado à noite.
Elas afastaram algumas mesas, colocaram almofadas no chão e um pequeno círculo de cadeiras ao redor do palco.
Anna abriu o encontro com voz suave, mas firme:
— Este espaço nasceu do desejo de ser quem somos.
— E agora ele é de todas nós — completou a amiga, segurando-lhe a mão.
As histórias começaram a surgir uma a uma.
Rostos tímidos se iluminavam.
Algumas pessoas riam, outras choravam.
Mas o que mais havia era empatia — uma sensação de que, finalmente, ninguém precisava esconder o que era.
As reuniões passaram a acontecer duas vezes por mês.
Algumas noites eram reservadas para rodas de conversa; outras, para palestras, pequenas apresentações ou simples encontros com café e confidências.
O vestiário do Florescer passou a ser usado também como camarim improvisado — onde cada participante podia se preparar, se montar, respirar fundo e, ao se olhar no espelho, sentir orgulho do reflexo.
Com o tempo, o Studio Florescer Crossdresser deixou de ser apenas um café.
Transformou-se em um refúgio de liberdade e aprendizado, um lugar onde o acolhimento vinha antes de qualquer julgamento.
Anna, ao final de uma das reuniões, ficou observando o grupo conversando e rindo.
Aquele brilho nos olhos de cada pessoa era o mesmo que ela via no espelho meses atrás — o brilho de quem floresce, mesmo depois da tempestade.
A amiga se aproximou, encostando-se ao balcão ao lado dela.
— Olha só o que criamos — disse, emocionada.
Anna sorriu, o olhar perdido na cena à frente.
— Acho que o Florescer finalmente se tornou o que sempre deveria ser: um lar para crossdressers.
E enquanto o som das vozes misturava-se à música suave de fundo, o letreiro do lado de fora brilhava sob o luar:
🌸 Studio Florescer Crossdresser – Cafeteria & Centro de Apoio à Liberdade de Ser 🌸
Continua... Aguarde o capítulo 54.
Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser
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