Capítulo 49: As Flores Que Desabrocham
Os fins de semana tornaram-se o ponto alto da rotina de Anna e de sua amiga.
De segunda a sexta, a vida seguia no escritório, entre reuniões, prazos e planilhas.
Mas bastava o sábado amanhecer para que os corações das duas se voltassem inteiros ao Studio Florescer Crossdresser.
A cafeteria começava a se tornar conhecida.
A notícia de um lugar acolhedor, feito especialmente para quem buscava liberdade e aceitação, se espalhava pelas redes sociais e pelas conversas discretas entre amigas.
Cada nova visitante trazia consigo uma história — algumas tímidas, outras marcadas por superação, e todas, de algum modo, emocionantes.
Nos sábados de manhã, era comum ver crossdressers chegando com passos hesitantes.
Algumas traziam bolsas grandes, escondendo roupas e maquiagens que não ousavam vestir em público.
Anna as recebia sempre com um sorriso sereno, dizendo com doçura:
— Aqui, você pode ser você. Sem pressa, sem culpa.
Muitas delas se dirigiam direto ao pequeno vestiário nos fundos.
De lá, emergiam transformadas: roupas leves, saltos, rostos iluminados e um brilho novo no olhar.
Era como se aquele espelho da penteadeira não refletisse apenas a aparência — mas a coragem.
O palco também ganhava vida.
Aos domingos à tarde, as apresentações eram diversas: havia poesias autorais, pequenas falas inspiradoras e até uma ou outra canção tocada em violão.
Mas o que mais emocionava Anna era o momento em que alguém, pela primeira vez, tomava o microfone para contar a própria história.
Uma dessas tardes ficou marcada na memória de todos.
Uma crossdresser chamada Luísa subiu ao palco, nervosa, segurando o microfone com as duas mãos.
— Eu nunca imaginei que teria coragem de vir aqui montada… — começou ela, a voz embargada. — Sempre achei que precisava esconder quem sou. Mas hoje, olhando pra vocês, sinto que… talvez eu possa existir.
O público, silencioso, escutava com atenção.
Anna, sentada com a amiga, sentiu o peito se apertar de emoção.
— Você pode existir sim, Luísa — respondeu ela do fundo da sala. — E esse lugar é a prova disso.
Os aplausos que se seguiram foram longos e sinceros.
Naquele instante, o Studio Florescer parecia respirar junto com cada pessoa ali dentro.
Com o tempo, o espaço ganhou mais cor, mais vozes, mais vida.
Algumas visitantes começaram a se voluntariar para ajudar nos fins de semana.
Outras traziam flores ou objetos de decoração.
Tudo era compartilhado com carinho — cada detalhe, uma forma de dizer “eu pertenço”.
Certa tarde, ao fechar a cafeteria, Anna ficou observando o salão silencioso.
As xícaras empilhadas, as cadeiras alinhadas, o perfume leve de café ainda no ar.
A amiga se aproximou, encostando de leve o ombro no dela.
— Olha o que criamos, Anna… — disse, sorrindo. — Um lar.
Anna respirou fundo, emocionada.
— Sim. Um lar para quem, como nós, precisou de coragem pra florescer.
Do lado de fora, as luzes do letreiro brilhavam na penumbra da noite:
☕ Studio Florescer Crossdresser – Cafeteria & Espaço de Liberdade ☕
E ali, sob o céu tranquilo, as duas compreenderam que o florescer não acontecia apenas dentro da cafeteria.
Acontecia dentro de cada pessoa que cruzava aquela porta — e dentro delas mesmas, a cada novo amanhecer.
Continua... Aguarde o capítulo 50.
Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser
Capítulos novos todos os dias.

Comentários
Postar um comentário