Capítulo 45: Nem Tudo São Flores
A vida a dois nem sempre era feita apenas de sorrisos e tardes ensolaradas.
Com o tempo, a rotina trouxe novos compromissos, prazos e responsabilidades que às vezes pesavam sobre os ombros de Anna. 
Nos últimos dias, o escritório vinha exigindo mais dela — clientes novos, prazos apertados, reuniões intermináveis.
O brilho calmo em seu olhar parecia um pouco ofuscado pela preocupação.
A amiga percebeu, mas esperou o momento certo para conversar.
Naquela noite, encontrou Anna ainda sentada à mesa de trabalho, o computador aberto e os ombros tensos.
— Ei… — disse suavemente, encostando-se no batente da porta. — Já é quase meia-noite.
Anna suspirou sem levantar os olhos.
— Eu sei, mas preciso terminar isso hoje. Se eu atrasar, perco o contrato.
A amiga se aproximou em silêncio, pousando as mãos nos ombros dela.
— Você não vai perder nada. Só tá se esquecendo de cuidar de quem faz tudo isso funcionar: você.
Anna ficou em silêncio por um momento.
O toque leve da amiga fez com que finalmente relaxasse, sentindo a tensão se dissolver pouco a pouco.
Virou-se devagar e, num tom baixo, confessou:
— Às vezes, eu tenho medo de não dar conta. Medo de decepcionar… você, meus clientes, a mim mesma.
A amiga se ajoelhou ao lado da cadeira e segurou suas mãos.
— Você não precisa ser perfeita, Anna. Eu me apaixonei por você porque é humana. Porque sente, porque erra, porque tenta.
Fez uma pausa e completou:
— E, se tudo desandar, a gente conserta juntas.
Os olhos de Anna marejaram.
Aquele “a gente” tinha um peso doce, um sentido profundo.
Era o lembrete de que ela não estava sozinha.
Na manhã seguinte, a chuva caía lá fora, lavando o ar e as preocupações da noite anterior.
Anna acordou com o som do café sendo coado e o cheiro de pão quentinho vindo da cozinha.
Quando apareceu na porta, a amiga sorriu:
— Hoje é dia de pausa. O mundo pode esperar um pouco.
Passaram o dia inteiro juntas: filmes, conversas, risadas e silêncios confortáveis.
Entre um café e outro, Anna sentiu o peito leve de novo.
— Sabe o que eu percebi? — disse ela, mais tarde, enquanto observavam a chuva pela janela.
— O quê? — perguntou a amiga, encostando a cabeça em seu ombro.
— Que amor de verdade é isso. Não é o que evita a tempestade… é o que te dá abrigo dentro dela.
A amiga apertou sua mão e sorriu.
— E o nosso abrigo é feito de fé, carinho e chá quente.
As duas riram, e o som da risada misturou-se ao barulho da chuva.
Era como se o mundo lá fora pudesse esperar, porque o essencial estava ali — dentro daquele apartamento, entre duas pessoas que se escolheram todos os dias, mesmo nos dias difíceis.
Anna olhou para a janela e pensou:
Talvez o amor não seja um final feliz.
Talvez ele seja, simplesmente, o lugar onde a gente aprende a recomeçar.
Continua... Aguarde o capítulo 46.
Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser
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