Capítulo 39: Ecos do Parque

Capítulo 39: Ecos do Parque

A semana começou tranquila, mas o silêncio do escritório escondia um leve ar de expectativa.
Desde o encontro no parque, Anna não conseguia deixar de pensar em Cláudia.
Ela se lembrava do olhar curioso, da pausa entre as palavras, da forma como observou suas mãos entrelaçadas com as da amiga. 

 

Crônica Crossdresser - Capítulo 39: Ecos do Parque

No fundo, Anna sabia que o assunto poderia voltar à tona — e voltou.

Na quarta-feira, enquanto revisava alguns documentos, a amiga entrou na sala com o semblante sereno, mas os olhos diziam outra coisa.
— Preciso te contar uma coisa… — disse, fechando a porta atrás de si.

Anna largou a caneta, já imaginando o que viria.
— A Cláudia comentou algo, não foi?

A amiga assentiu.
— Sim. Ela ligou hoje de manhã. Perguntou se “aquela moça do parque” era você mesma. Eu não menti. Disse que sim, que era você.

Anna sentiu o coração apertar, mas manteve o olhar firme.
— E o que ela disse?

— Ficou surpresa. Disse que jamais teria imaginado. Mas o tom dela não foi de crítica, foi mais de curiosidade… sabe aquele tipo de espanto misturado com admiração?

Anna respirou fundo, tentando organizar os pensamentos.
— Eu sabia que um dia isso aconteceria. Que alguém do nosso meio descobriria sobre o meu crossdressing, transexualidade e sobre nós.
— E está tudo bem — respondeu a amiga, aproximando-se e segurando suas mãos. — Você não fez nada de errado. Você apenas é quem é.

O toque trouxe calma.
Anna olhou para o rosto da mulher que estava diante dela e sentiu o medo se dissolver pouco a pouco.
A verdade era que ela não queria mais viver à sombra do que os outros pensavam.

Naquela tarde, decidiram continuar o dia normalmente.
Atenderam clientes, revisaram projetos, trocaram ideias. Mas havia um sentimento diferente no ar — um misto de coragem e vulnerabilidade.

No fim do expediente, sentaram-se no sofá do escritório.
O pôr do sol entrava pela janela, colorindo tudo de laranja e dourado.
Anna encostou a cabeça no ombro da amiga e ficou em silêncio por alguns instantes.

— Sabe — disse ela, com voz baixa —, durante muito tempo, eu tive medo de ser descoberta. Agora percebo que não há mais o que esconder. Se alguém souber, saberá de mim como sou… e não como imaginei que esperavam que eu fosse.

A amiga sorriu, acariciando-lhe o rosto.
— E é assim que deve ser. Porque a coragem de ser você é o que te faz tão especial.

O momento era simples, mas cheio de significado.
O amor delas não era um segredo vergonhoso, era uma verdade silenciosa — firme, bonita e serena.

Nos dias que seguiram, algumas mensagens começaram a chegar. Comentários sutis, olhares curiosos, perguntas disfarçadas.
Mas Anna manteve a postura.
Ela continuava indo ao trabalho com o mesmo sorriso, vestindo-se com elegância e leveza, com o coração tranquilo.

E, aos poucos, o que poderia ter sido motivo de especulação tornou-se um exemplo de autenticidade.
As pessoas viam nela algo raro: a coragem de viver sem medo.

Numa noite qualquer, enquanto fechavam o escritório, a amiga olhou para ela e disse:
— Viu só? O mundo não desabou.
Anna sorriu.
— É… acho que quando a gente vive com verdade, o mundo acaba aprendendo a respeitar.

E, de mãos dadas, caminharam até a porta.
O reflexo das duas no vidro mostrava mais do que duas mulheres apaixonadas — mostrava duas pessoas inteiras, que aprenderam que o amor é, antes de tudo, um ato de liberdade. 

Continua... Aguarde o capítulo 40. 

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