Capítulo 71: Entre Sorrisos e Pensamentos
A segunda-feira amanheceu com o sol entrando pela janela do pequeno apartamento de Camila.
Ela levantou-se com um sorriso bobo nos lábios — o mesmo sorriso que teimava em aparecer desde o domingo anterior.
Tomou café, vestiu uma saia rodada curta azul marinho, uma blusinha feminina branca, sandálias de salto alto azuis, prendeu o cabelo em rabo de cavalo, fez uma maquiagem leve, colocou alguns acessórios e, antes de sair, olhou-se no espelho por um instante.
Seu olhar tinha algo diferente: leveza e brilho.
No Studio Florescer Crossdresser, o movimento da manhã seguia o ritmo de sempre — o som das xícaras, o aroma do café fresco, o toque das vozes que se misturavam num murmúrio acolhedor.
Mas havia algo em Camila que mudara.
Anna percebeu logo.
Enquanto Camila ajeitava as flores na vitrine, distraída, sorrindo sozinha, Anna se aproximou e comentou com humor:
— Esse arranjo deve estar apaixonado, porque você está sorrindo pra ele há dez minutos.
Camila corou e riu, meio sem graça.
— Ai, Anna… não é nada.
A amiga, que escutava de longe, não perdeu tempo:
— “Não é nada” é sempre o começo de uma boa história, minha querida.
Camila tentou disfarçar, mas acabou se entregando.
— Tá bom… é que eu conheci alguém.
As duas pararam o que estavam fazendo.
— Alguém? — repetiu Anna, com os olhos brilhando. — Eita, agora quero saber de tudo.
Camila respirou fundo e contou.
Falou do parque, do domingo ensolarado, de como o garoto se aproximou, de como ele foi gentil, e — com um toque de hesitação — contou o momento em que ele descobriu que ela era uma crossdresser.
— Eu fiquei com tanto medo — confessou. — Achei que ele ia se afastar, ou rir de mim…
Mas então ele disse uma coisa que eu nunca vou esquecer.
Anna inclinou-se, curiosa.
— O que ele disse?
Camila sorriu, com os olhos marejando de emoção.
— Que isso me tornava ainda mais especial… além de linda.
Um silêncio suave tomou conta do Studio.
A amiga pousou a mão sobre o ombro de Camila.
— Que bonito ouvir isso… e de alguém que te olhou com carinho de verdade.
Anna concordou, mas manteve o tom sereno.
— Camila, fico muito feliz por você. É lindo ver seus olhos brilhando assim.
Mas me promete uma coisa?
— O quê? — perguntou ela.
— Vá fundo nesse sentimento, mas com cautela. Às vezes as pessoas se encantam, mas não estão prontas pra entender tudo o que envolve ser quem você é.
Você merece alguém que te admire de verdade, não só no começo.
Camila assentiu, compreensiva.
— Eu sei, Anna… mas dessa vez parece diferente.
— Que seja então — respondeu Anna, sorrindo. — Só não esquece de cuidar de si também.
Os dias seguintes correram leves.
Camila trabalhava, servia cafés, arrumava vitrines, mas a cabeça vivia distante.
Entre um cliente e outro, o pensamento voltava sempre ao mesmo ponto: o sorriso dele, o som da voz, a lembrança do banco no parque.
Às vezes, parava no balcão e suspirava sem perceber.
A amiga, rindo, dizia:
— Essa menina está flutuando.
E era verdade.
Camila estava flutuando — entre o encanto e o medo, entre a esperança e o desejo de acreditar que, dessa vez, o destino estava sorrindo para ela.
Na sexta-feira, ao fechar o Studio, Anna abraçou Camila com carinho.
— Vai descansar, sonhadora. Domingo tá chegando… quem sabe o parque não te reserva um novo capítulo dessa história?
Camila sorriu, o coração acelerado só de imaginar.
Saiu caminhando pela rua com o vento leve batendo no rosto, o mesmo sorriso sereno de quem carrega dentro de si o começo de um amor — doce, inesperado e cheio de possibilidades. 🌷
Continua... Aguarde o capítulo 72.
Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser
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