Capítulo 66: O Primeiro Encontro do Centro de Apoio Florescer

Capítulo 66: O Primeiro Encontro do Centro de Apoio Florescer

O sol da tarde entrava pelas janelas do Studio Florescer Crossdresser, tingindo o chão de tons dourados.
As mesas haviam sido afastadas, as cadeiras dispostas em um grande círculo, e no centro havia um pequeno vaso com flores lilases — símbolo da delicadeza e da força que uniam todas ali.

Capítulo 66: O Primeiro Encontro do Centro de Apoio Florescer

Anna olhava o ambiente com um sorriso calmo.
— Está tudo pronto — disse, ajeitando um último detalhe no arranjo.
Sua amiga, sempre prática, conferiu a lista de nomes.
— Hoje virão oito meninas. Algumas de cidades próximas, outras daqui mesmo.

Camila observava tudo em silêncio, o coração acelerado.
Era o primeiro encontro oficial do Centro de Apoio Florescer — um espaço criado para que crossdressers e mulheres trans pudessem se reunir, conversar, dividir histórias e aprender umas com as outras.

Anna havia sonhado com isso desde o início, mas agora, com a presença de Camila e toda a transformação recente do Studio, o sonho finalmente se tornara real.

Pouco a pouco, as convidadas começaram a chegar.
Eram rostos diferentes, olhares curiosos e tímidos, passos que hesitavam antes de atravessar a porta.
Camila reconheceu em cada uma delas algo de si mesma — aquela mistura de medo e esperança, de querer ser e ainda não saber se pode.

Com delicadeza, foi recebendo uma a uma.
Ofereceu café, chá, e sorrisos que diziam mais do que palavras.

Quando todas estavam acomodadas, Anna iniciou o encontro:
— Bem-vindas ao Florescer. Este espaço é de vocês. Não há julgamentos aqui, nem pressa.
Sua voz era firme, mas doce.
— A ideia do Centro é simples: criar um lugar seguro onde possamos conversar sobre o que vivemos, trocar experiências e aprender juntas.

Camila observava cada rosto.
Algumas meninas pareciam à beira das lágrimas. Outras sorriam discretamente, como se estivessem aliviadas por, finalmente, não precisarem esconder nada.

A amiga de Anna tomou a palavra em seguida:
— A gente sabe o quanto pode ser difícil dar o primeiro passo. Muitas de nós demoramos anos para isso. Por isso, cada história contada aqui é um ato de coragem.

Depois, Anna olhou para Camila:
— Quer começar?

Camila respirou fundo.
Seu coração batia forte, mas o olhar de confiança de Anna lhe deu força.
Ela sorriu e começou:
— Meu nome é Camila… e eu sei exatamente o que é ter medo de se olhar no espelho e não reconhecer quem vê.

Enquanto falava, as lembranças voltavam com clareza.
Contou brevemente sobre a vida no interior, o silêncio, o desejo reprimido, o dia em que roubou as calcinhas da prima — sem vergonha, mas com compaixão por aquela menina assustada que um dia fora.

Falou também do dia em que chegou à cidade grande, da primeira visita ao Studio, e de como Anna e a amiga mudaram sua vida.
— Aqui, eu aprendi que ser mulher não é uma permissão. É um florescer.

Quando terminou, o silêncio que se seguiu foi carregado de emoção.
Uma das novas meninas, de voz trêmula, foi a primeira a falar:
— Eu achei que era a única que sentia isso.

E, assim, uma a uma, começaram a se abrir.
Histórias de medo, de culpa, de descobertas e de esperança preencheram o espaço.
O Studio, que sempre fora um refúgio, naquela tarde se transformou em algo maior — um lar simbólico, onde cada palavra era acolhida com ternura.

No final do encontro, Anna sugeriu que todas escolhessem uma flor do pequeno arranjo central e a levassem consigo.
— Para lembrar que cada uma de vocês é parte deste jardim.

Camila observou as meninas saindo com os rostos mais leves, algumas trocando abraços, outras prometendo voltar.
Quando a porta se fechou, o Studio ficou em silêncio por alguns segundos.

Anna olhou para Camila e sorriu:
— Você viu? Hoje plantamos algo muito bonito.

Camila assentiu, emocionada.
— E vai crescer… porque agora somos muitas flores.

Do lado de fora, o letreiro do Florescer iluminava a rua com seu brilho suave.
E pela primeira vez, a cidade parecia mais acolhedora, mais colorida — como se, enfim, começasse também a florescer junto com elas. 🌸

Continua... Aguarde o capítulo 67. 

Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser

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