Capítulo 36: A Intimidade Entre Duas Almas
O tempo passou com a suavidade de uma rotina compartilhada.
O escritório, antes apenas um lugar de trabalho, tornara-se uma extensão das duas — risadas, confidências, olhares que diziam mais do que qualquer palavra. Mas, aos poucos, a fronteira entre o “profissional” e o “pessoal” começou a se dissolver, como se o amor não respeitasse os limites de horários e paredes.
Depois de um longo dia, era comum que a amiga passasse no apartamento de Anna. Às vezes levava uma garrafa de vinho; outras, uma sacola com frutas e flores.
E assim, sem precisar de cerimônia, as noites se tornaram mais frequentes, mais íntimas — o tipo de intimidade que nasce da presença, não apenas do toque.
Certa noite, o som suave da chuva batia na janela enquanto as duas se acomodavam no sofá.
Anna usava uma blusinha de tricô leve e shortinho de algodão, e a amiga, de babydoll amarelo clarinho, encostava-se a ela com naturalidade.
A conversa fluía entre risadas e silêncios, entre lembranças da infância e planos que ainda nem sabiam se teriam coragem de realizar.
— Engraçado — disse Anna, mexendo distraída em uma mecha de cabelo —, eu sempre achei que intimidade fosse algo rápido… mas com você é diferente.
— Diferente como? — perguntou a amiga, deitando a cabeça no ombro dela.
— É como se eu te conhecesse há muito tempo. Como se o meu corpo e o meu coração finalmente falassem a mesma língua.
A amiga sorriu, passando a ponta dos dedos sobre a coxa de Anna, num gesto leve, quase imperceptível.
— É porque a gente se entende além do que é dito. E quando isso acontece, tudo fica mais… verdadeiro.
Os toques começaram a se tornar parte do cotidiano das duas, toques cada vez mais íntimos — uma mão que passa lentamente na coxa, um abraço mais longo sentindo o toque da pele uma da outra, um carinho distraído em partes que arrepiam o corpo todo durante um filme.
Pequenos gestos que carregavam o peso da intimidade que estava se construindo.
Em alguns fins de semana, Anna dormia no apartamento da amiga. Faziam café da manhã juntas, trocavam confidências e ficavam horas conversando debaixo das cobertas, como se o mundo lá fora deixasse de existir.
Falavam sobre amor, sobre medo, sobre os papéis que a vida lhes impôs e os que escolheram viver. Claro, não deixavam de fazer amor apaixonadamente, hora tradicional, hora invertido.
Numa dessas manhãs, a amiga olhou para Anna e disse, com voz calma:
— Sabia que quando estou com você, tudo parece fazer sentido?
Anna apenas sorriu, o olhar marejado de emoção.
— Eu sei. E é isso que me assusta… e ao mesmo tempo, me faz querer mais.
O medo ainda existia — o medo do julgamento, das perguntas, do olhar dos outros.
Mas agora havia algo maior: a certeza de que o que sentiam era real, bonito, e nascido de verdade.
E assim, entre uma tarde de trabalho e uma noite de risadas, o relacionamento foi ganhando corpo, alma e propósito.
O amor entre as duas deixava de ser um segredo para se tornar uma escolha — silenciosa, madura e profunda.
Na penumbra suave do apartamento, com as mãos entrelaçadas e o coração tranquilo, Anna percebeu que a intimidade verdadeira não estava apenas no toque físico, mas na segurança de poder ser quem se é — e ser amada exatamente assim.
Continua... Aguarde o capítulo 37.
Confira os capítulos anteriores em: Crônicas Anna Crossdresser
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